dezembro 05, 2010

aqui anoitece sempre, quando não anoitece em mais lugar nenhum.
nunca poderia ter desejado que me tivesses dito palavras que não tinhas em ti,
porque eu não era a jeanne nem tu o modi e eu nunca me mataria por ti.
deitavas-te na cama, sem uma palavra e o único soar naquele quarto era o arranhar da chuva nas janelas.
nunca percebeste porque era melancólica, porque chorava sem razão,
porque apenas me sentia em casa quando não acendia as luzes e eu nunca te quis explicar, nunca te quis explicar, porque era melhor assim, porque doía demais falar.
às vezes acordáva a meio da noite e pedia-te para irmos ver as luzes da avenida, o transito a passar.
ias sempre a contra gosto, como gaivotas em terra.
subíamos a avenida e sentavamo-nos no marques, semicerravamos os olhos e víamos as luzes desfocadas dos candeeiros e dos carros, aquele mar de barcos velozes.
acendias-me um cigarro e eu esquecia-me do mundo, do mundo que era demasiado pequeno nessas noites.